terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Robert Dudley: "Foi uma sucessão de erros"

O CEO que assumiu a BP depois do maior vazamento de óleo da história americana admite falhas da empresa e diz que o caso levará a atividade a se tornar mais segura

Malu Gaspar e Renata Betti
Revista Veja – 09/02/2011


BP/Divulgação
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Desde que assumiu o comando da petrolífera inglesa BP, há três meses, o engenheiro americano Robert Dudley, de 54 anos, está incumbido da missão de reerguer os negócios e a reputação da multinacional - fortemente abalados pelo acidente no Golfo do México, em abril passado, quando uma plataforma de exploração deixou vazar mais de 800 milhões de litros de óleo no mar. Onze pessoas morreram e milhares de outras, que moram e trabalham naquela parte da costa americana, sofreram grandes prejuízos.

Na semana passada, a companhia foi alvo de novos protestos por parte dos
cidadãos atingidos pelo vazamento. Eles estão indignados com o anúncio de que
a companhia retomaria o pagamento de dividendos aos acionistas. Afirmam que deveriam ter prioridade e receber logo as indenizações que lhes são devidas. Na entrevista a VEJA, em que falou também sobre o etanol e o pré-sal brasileiros, Dudley se posiciona abertamente sobre o acidente: "Sei que de nada adianta repetir que somos uma empresa segura - temos de demonstrar isso na prática".

Empresários e moradores da região atingida pelo vazamento no Golfo do México estão descontentes com a demora no pagamento das indenizações. A BP vai pagar a todos?
É natural que haja gente insatisfeita num processo como esse. Estamos falando de tantas indenizações que podem chegar a 20 bilhões de dólares. Dada a complexidade da operação, depositamos esse dinheiro num fundo administrado por um executivo independente da empresa, indicado pela Casa Branca, que está ditando a ordem e o ritmo dos pagamentos. Trata-se de uma questão de tempo: a intenção é pagar a todos os prejudicados.

Quais foram, afinal de contas, as causas do acidente?
Um grupo de sessenta consultores externos produziu um relatório bastante objetivo acerca do episódio. A equipe concluiu que o desastre não foi provocado por uma única razão, e sim por uma sequência de falhas mecânicas e de problemas na engenharia da plataforma. A isso, aliaram-se maus julgamentos humanos e ainda atritos entre os funcionários das diversas companhias envolvidas na operação. Foi justamente a soma de todos esses fatores que criou o cenário para o acidente - e fez com que ele adquirisse tamanha gravidade.

O senhor poderia ser mais específico quanto às falhas? A primeira ocorreu quando os técnicos da plataforma não souberam interpretar os testes de pressão que sinalizavam a existência de um vazamento no fundo do poço. Um erro fatal. Eles continuaram a trabalhar como se nada houvesse. Em seguida, foi o equipamento que deveria acionar o dispositivo de prevenção a explosões que não funcionou. A plataforma começou, então, a se mover. Numa situação assim, esperava-se que o sistema fechasse o buraco automaticamente, para impedir novos vazamentos. Isso também não ocorreu. A próxima etapa deveria ter sido o envio de robôs ao fundo do mar. Tentamos fazer isso, mas, novamente, não deu certo.

Não é estranho que nenhuma dessas iniciativas tenha funcionado? Realmente não sei por que nada deu certo naquele dia.

Uma reportagem recente publicada pelo jornal The New York Times sugere que os equipamentos utilizados apresentavam problemas de manutenção e que os funcionários ainda estavam despreparados para emergências de grande porte... O relatório técnico deixa claro que os defeitos no maquinário, que apareceram durante o acidente, não foram causados por falhas de manutenção. Quanto aos funcionários, de fato houve certa hesitação no início, mas há que considerar que a situação era extremamente atípica. A verdade é que, quando se está no olho do furacão, críticas, muitas delas infundadas, são inevitáveis. No auge da crise, alguns de nossos concorrentes vieram a público dizer que o acidente nunca teria acontecido caso eles estivessem à frente da operação, ou que teriam reagido de forma diferente numa situação dessas - afirmações precipitadas e equivocadas.
 

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